A luta contra as mudanças climáticas encontra-se na encruzilhada entre a preservação da biodiversidade e o desenvolvimento de energia limpa e renovável. Uma nova pesquisa da University of California, Davis aborda esta interseção, investigando onde a construção de projetos de energia limpa pode ocorrer sem prejudicar o habitat futuro de espécies ameaçadas, como a emblemática árvore Joshua e a raposa de San Joaquin (San Joaquin kit fox), em perigo de extinção.
A pesquisa, divulgada no periódico Nature Climate Change, revela que, até 2070, sob um cenário de emissões moderadas, a árvore Joshua poderá perder 31% de seu habitat e a raposa de San Joaquin, 81%. Quando sobrepostos estes dados com os locais de existentes e propostos projetos de energia renovável, há uma perda adicional prevista de 1,7% do habitat da árvore Joshua e de 3,9% do habitat da raposa.
Segundo Uzma Ashraf, autor principal do estudo e pós-doutorando no UC Davis Wild Energy Center e no Department of Land, Air and Water Resources, o estudo destaca a necessidade de expansão cuidadosa das energias renováveis, considerando sua sobreposição com áreas críticas para a biodiversidade. A modelagem computacional avançada surge como uma ferramenta valiosa para ajudar a entender como localizar recursos de energia renovável de maneira a beneficiar a biodiversidade e as mudanças esperadas em seus habitats.
Globalmente, a capacidade de energia renovável aumentou para 290 gigawatts (GW) em 2021, e precisa chegar a 1.120 GW anuais até 2030 para se atingir metas de emissão líquida zero até 2050. Paradoxalmente, as populações de animais declinaram dois terços nos últimos 50 anos, principalmente devido à perda de habitat, exacerbada pelas mudanças climáticas.
O estudo ainda denota que as alterações da paisagem poderiam danificar ambientes que, de outra forma, serviriam como refúgios climáticos no futuro. As raposas de San Joaquin têm encontrado abrigo em instalações solares, o que sinaliza a possibilidade de minimizar impactos através do atendimento cuidadoso às necessidades ecológicas da espécie.
Rebecca R. Hernandez, autora correspondente e professora associada, que dirige o Wild Energy Center da UC Davis, destaca que está sendo desenvolvida uma estrutura para auxiliar os desenvolvedores de energia limpa a tomarem decisões antecipatórias sobre a localização de projetos, considerando possíveis deslocamentos futuros de animais. O desafio representa um grande avanço para a energia solar e eólica, com o objetivo de garantir um progresso que também abrace a conservação da biodiversidade e a justiça social.
Para atender à demanda dual, a modelagem avançada e estratégias cuidadosas são essenciais para navegar com segurança através da expansão da energia limpa. Os autores do estudo clamam por uma abordagem colaborativa que priorize tanto as energias renováveis quanto a conservação da biodiversidade nos cenários futuros alterados pela mudança climática.
Fonte: U. Ashraf et al., “Aligning renewable energy expansion with climate-driven range shifts,” Nature Climate Change, vol. 2024, doi: 10.1038/s41558-024-01941-3. Disponível em: www.nature.com/articles/s41558-024-01941-3