América Latina Pode Liderar a Revolução Verde e Transformar a Economia Global

Na conjuntura atual, marcada pelas transições energéticas e a volatilidade geopolítica, a América Latina e o Caribe emergem como atores primordiais na reconfiguração de um panorama energético global mais resiliente e ecológico. O primeiro informe detalhado da Agência Internacional de Energia (AIE) sobre a bioeconomia da região intitulado Panorama Energético da América Latina e Caribe, lançado no dia 8 de novembro de 2023, revela que a soma dos vastos recursos naturais e o conhecimento em energia limpa da América Latina podem ser decisivos na procura por um modelo energético global mais estável e na dinamização da própria transição energética da região.

O relatório da AIE salienta que a América Latina e o Caribe possuem um dos setores de eletricidade mais limpos em escala mundial, com 60% de sua eletricidade originada de fontes renováveis como a energia hidrelétrica, o que corresponde ao dobro da média global. Os recursos eólicos e solares, predominantes em países-chave como Brasil, México, Chile e Argentina, figuram entre os mais eficientes do planeta. Os avanços da bioenergia complementam esse cenário, consolidando a região como uma robusta exportadora de biocombustíveis.

Além da energia renovável, os países latino-americanos e caribenhos detêm aproximadamente 15% das reservas mundiais de petróleo e gás natural, ressaltando sua importância para a segurança energética global. Quando se trata de minerais cruciais para as tecnologias de energia limpa, como lítio, cobre e prata, a região provê nada menos que metade das reservas de lítio globalmente e mais de um terço das reservas de cobre e prata, sugerindo um potencial significativo para um desenvolvimento limpo na mineração e processamento desses materiais.

Entretanto, o estudo da AIE aponta para uma defasagem crítica relacionada à implementação de políticas de energia. Apesar de promessas de zerar as emissões de carbono e uma disposição para aumentar as Contribuições Nacionalmente Determinadas sob o Acordo de Paris, a prática se mostra aquém da ambição. A atual configuração política indica que os combustíveis fósseis continuarão sendo o alicerce energético da região, sobretudo para o setor de transporte, limitando avanços na transição para energia limpa.

Contrastando com o panorama atual, o relatório demonstra que uma aderência às metas estipuladas poderia resultar no estímulo de energias renováveis para cobrir o aumento de demanda por energia nesta década. Dessa maneira, as exportações de petróleo poderiam crescer, ampliando a diversidade no suprimento global de energia e impulsionando a economia local. A projeção sugere ainda que o incentivo a recursos renováveis viáveis promoveria a produção de hidrogênio verde e o crescimento do setor de biocombustíveis. Olhando para o futuro, a expectativa é de que a receita proveniente de minerais críticos dobre, atingindo aproximadamente 200 bilhões de dólares, ultrapassando a dos combustíveis fósseis.

O estudo enfoca quatro eixos principais para a redução das emissões de dióxido de carbono: intensificar o uso de energia renovável, promover a eletrificação da indústria e transporte, fomentar a eficiência energética para moderar o aumento de demanda, e ampliar o acesso a soluções de energia limpa. A investigação apontou que um rápido avanço nas energias renováveis seria capaz de compensar 40% das emissões de CO2 projetadas levando em consideração as políticas atuais.

Para alcançar as metas almejadas, diz o relatório, será necessário ampliar os investimentos em energia limpa na região. Estes deveriam dobrar até 2030, alcançando os 150 bilhões de dólares e, eventualmente, quintuplicar até 2050. Em um cenário otimista, há uma inversão prevista na proporção de investimentos entre fontes limpas e combustíveis fósseis, de cerca de 1:1 hoje, para 4:1 na próxima década.

Como parte do empenho para minimizar as emissões de CO2, a atenção também se volta para a redução de metano proveniente da indústria petrolífera e gás. As operações na região poderiam cortar as emissões de metano em até 80% a baixo custo, alinhando a América Latina e o Caribe com o Compromisso Global do Metano. Além disso, as emissões oriundas do uso de terra e agricultura devem sofrer uma diminuição significativa, em consonância com o Compromisso de Glasgow, que busca cessar o desmatamento até 2030.

A perspectiva de um acesso universal à energia moderna a preços acessíveis, um desafio iminente para 17 milhões de indivíduos que carecem de eletricidade e 74 milhões que não possuem energia limpa para cozinhar, é igualmente enfatizada. A AIE se posiciona, assim, não apenas como observadora, mas como uma entidade pronta para cooperar com os países da região neste processo de transição, reforçando o tecido de uma bioeconomia sustentável e inovadora.

Por fim, o Panorama Energético da América Latina e Caribe é uma peça crucial que realça não só o papel estratégico da região no domínio da bioeconomia mas também a urgência de políticas assertivas e colaborações internacionais para maximizar seu potencial ímpar. A AIE reconhece que a América Latina e o Caribe são territórios férteis para a mudança e está disposta a fomentar laços regionais e bilaterais visando concretizar os objetivos energéticos delineados pelo relatório, ancorando uma bioeconomia comprometida com soluções sustentáveis e o desenvolvimento socioeconômico.

Fonte: Agência Internacional de Energia (AIE). Panorama Energético da América Latina e Caribe. 8 de novembro de 2023.


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