A inserção de hortas e pomares no cenário urbano emergiu como uma resposta inovadora e necessária diante da crise climática. São Paulo e Melbourne, cidades icônicas em diferentes continentes, têm desenvolvido abordagens distintas nesse campo, cada qual adaptada às suas realidades locais. O estudo intitulado ‘Building knowledge in urban agriculture: the challenges of local food production in São Paulo and Melbourne’, apresenta um panorama deste movimento em ascensão e o potencial significativo para São Paulo.
O engenheiro ambiental Luís Fernando Amato-Lourenço, vinculado à Universidade de São Paulo, destaca que a crise climática global reforça a importância de fortalecer a agricultura local e a segurança alimentar. Em São Paulo, as modalidades de agricultura urbana abarcam dimensões socioeducativas, fundamentadas por esforços voluntários e princípios agroecológicos, bem como formas orientadas para a geração de renda, especialmente em zonas periféricas.
A comparação entre as práticas de São Paulo e Melbourne revela diferenças instrutivas. Enquanto que em Melbourne, a agricultura urbana alia-se a estratégias de saúde pública e é sustentada por políticas que orientam sua implementação e monitoramento, em São Paulo, observa-se uma prevalência de soluções criativas e originais, ainda que efêmeras, devido ao apoio volúvel do trabalho voluntário. A exceção ocorre quando líderes dedicados, como a nutricionista Neide Rigo, promovem o cultivo e valorização de Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs).
A receptividade e o interesse da comunidade por práticas de agricultura orgânica e a crescente inclinação para hortas urbanas articulam-se à busca pela inovação. A agropecuária urbana da cidade, compreendida entre 2017 e 2028, comportava 323 unidades de produção agropecuária, envolvendo 802 pessoas diretamente na produção.
Além disso, a emergente prática das hortas verticais, exemplificada pela horta no topo do Shopping Eldorado, aponta para uma nova dimensão de potencialidades, unindo produção de alimentos e benefícios ambientais como a redução das ilhas de calor. A professora Thais Mauad reforça que a produção alimentar urbana favorece a mitigação de impactos climáticos no nível local e pode fortalecer a resiliência da cidade às consequências extremas das mudanças climáticas.
Fonte: https://agencia.fapesp.br/agricultura-urbana-pode-ser-resposta-criativa-a-crise-climatica/50525