Debate sobre Green Deal e Acordo UE-Mercosul esquenta pauta do agronegócio brasileiro
A bioeconomia brasileira enfrenta desafios críticos à medida que a União Europeia adota medidas ambientais rigorosas, como o recente Green Deal. Esse novo cenário eleva a pressão sobre o agronegócio nacional, em uma época onde a sustentabilidade no âmbito da produção agropecuária é cada vez mais debatida globalmente.
O agronegócio brasileiro, especialmente preocupado com o impacto das restrições europeias relacionadas ao desmatamento, busca ajustar-se à normativa que exige que importadores dos países-membros não comprem alimentos oriundos de áreas desmatadas. Esta exigência será um tema chave na 28.ª Conferência do Clima da ONU, a ser realizada em Dubai. O debate sobre este cenário foi intensificado durante o Estadão Summit Agro, onde André Lima, do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, enfatizou o “esforço máximo” do governo federal no combate ao desmatamento ilegal, sublinhando a necessidade de incentivos econômicos como ferramentas de ação.
Além de abordar os desafios impostos pelo Green Deal, o secretário destacou a importância de diferenciar desmatamento ilegal e legal, uma distinção reconhecida pela legislação brasileira, mas não pela europeia. Em números alarmantes, ele mencionou que mais de 95% do desmatamento na Amazônia é ilegal e mostrou preocupação crescente também com o Cerrado, mesmo que predominantemente seja desmatamento legal.
Na mesma linha, a diretora de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Sueme Mori, elencou preocupações sobre como as questões ambientais afetam a imagem do Brasil, reiterando apoio ao Acordo UE-Mercosul se este garantir acesso efetivo ao mercado. Ela ainda destacou a participação expressiva da União Europeia no market share das exportações agropecuárias brasileiras, colocando em evidência a relevância estratégica das negociações bilaterais.
O pesquisador do Observatório de Bioeconomia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Leonardo Munhoz, enfatizou a implementação do Código Florestal como chave para a pacificação da agenda ambiental. Ele também considerou impossível ignorar as dinâmicas globais representadas pelo Green Deal. A cooperação é a via defendida por Rodrigo Lima, especialista em questões ambientais, que alerta sobre a expansão global desse modelo regulatório.
Paulo Pianez, da Marfrig Global Foods, apontou a necessidade urgente de rastrear os bovinos desde o nascimento, de modo a evitar que sejam criados em áreas de desmatamento ilegal. No entanto, levantou a questão da complexidade em se aplicar integralmente o Código Florestal, especialmente para pequenos e médios produtores com limitada tecnologia.
Olhando para a iminente COP-28, Sueme Mori expressou a visão de que o agronegócio sustentável do Brasil deve ser tratado como parte da solução nas negociações climáticas, citando um documento preparado pela CNA e o setor agro. Por outro lado, a visão de Rodrigo Lima sobre a eficácia das declarações da COP foi cética, ressaltando que a ação concreta e o financiamento climático são os aspectos que ainda estão pendentes.
Este quadro de debates e negociações desenha um caminho complexo e intricado para o futuro da bioeconomia brasileira, destacando não só os desafios, mas também a urgência em encontrar soluções que alinhem produção agropecuária a práticas ambientais sustentáveis.
Fonte: https://www.estadao.com.br/economia/agronegocios/acordos-exigencias-debates-brasil-europeus/