Avanços significativos na bioeconomia e na agricultura sustentável vêm sendo observados na intersecção entre a produção agrícola e a conservação ambiental. Um exemplo promissor vem da parceria entre meliponicultores, responsáveis pela criação de abelhas sem ferrão, e produtores rurais. Uma iniciativa exemplar ocorreu na fazenda Malunga, conhecida por seus produtos orgânicos, onde as abelhas do Schappo Jardim de Mel impulsionaram um aumento de 30% na produtividade de abóbora.
O caso demonstrado envolveu a instalação de 10 caixas de abelhas Mandaguari em um hectare de cultivo de abóbora. Essa estratégia, além de elevada produção, também promove a manutenção do ecossistema local através da polinização eficiente. Relatou o extensionista rural da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF), Carlos Morais, que a ação caracteriza-se por um modelo ganha-ganha, realçando o aumento de produtividade e biodiversidade nas propriedades além da geração de um mel de alta qualidade.
A parceria surgiu do envolvimento do produtor Joe Valle, que adquiriu cinco das dez caixas, visualizando não apenas o aumento da produtividade, mas também a consolidação de uma produção sustentável em sua fazenda, voltada para a diversidade ambiental e a conscientização do público sobre a relevância das abelhas.
Enquanto comportamento polinizador, as abelhas sem ferrão, como as espécies Jataí, destacam-se pela eficácia na polinização, fundamental para 90% das árvores e flores nativas da região. Assim, não só a produtividade agrícola é beneficiada, mas contribui-se significativamente para a preservação ambiental, tornando a meliponicultura vital tanto para a economia quanto para o meio ambiente.
Na perspectiva econômica, ainda que a produtividade do mel das abelhas sem ferrão seja menor se comparado ao mel comum das Apis mellifera, o valor agregado do mel de abelhas nativas é muito superior, alcançando preços acima de R$ 300 o litro. Esse cenário justifica ações de capacitação e acompanhamento de produtores rurais pela Emater-DF, visando um melhor manejo e compreensão desta atividade milenar.
O compromisso com a preservação se reflete também em esferas legislativas. A recente Lei 7.311, de 27 de julho de 2023, estabelece diretrizes para garantir a preservação, o resgate e o manejo dessas abelhas no Distrito Federal, onde foram identificadas 35 espécies de abelhas nativas. A regulamentação busca proteger essas espécies e promover a meliponicultura enquanto prática sustentável e estratégica para a bioeconomia.
Este cenário ilustrativo reforça o potencial inovador e sustentável da meliponicultura, integrando a produção de alimentos orgânicos com a valorização da biodiversidade local. Casos como este evidenciam a necessidade de uma visão holística na produção agrícola, que favoreça a economia sustentável e o equilíbrio ecológico dentro da crescente demanda por práticas sustentáveis e responsabilidade socioambiental no setor produtivo.