Agricultura global enfrenta um ponto de inflexão crucial, com a diversificação das culturas surgindo como uma resposta iminente às vulnerabilidades do sistema agroalimentar contemporâneo. A crise alimentar atual, exacerbada por eventos climáticos extremos e uma marcante carência nutricional, lança luz sobre a questão da segurança alimentar. O monopólio de meras seis culturas – arroz, trigo, milho, batata, soja e cana-de-açúcar – que suprem mais de 75% da demanda calórica global, sinaliza um alerta para a sustentabilidade do sistema alimentar e para a nutrição global.
Nesse contexto, surgem propostas de renovação vindas de organismos influentes como o Consultative Group on International Agricultural Research (CGIAR), que preconizam uma reorientação da pesquisa agropecuária. A nova diretiva sugere uma transição de enfoque, da maximização da produção calórica para a da densidade nutricional, da resiliência climática e da diversidade biológica. Tal paradigma propõe a valorização de culturas esquecidas pela Revolução Verde e enfatiza a importância de adaptá-las às condições ecossistêmicas locais.
A proteção da biodiversidade e a redução da dependência de alguns poucos países exportadores de alimentos básicos são objetivos centrais nessas novas diretrizes. A reação a essa mudança ressoou no Fórum Econômico Mundial, onde o Secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken, referiu-se à iniciativa como ‘genuinamente revolucionária’, caracterizando uma nova era de estratégias no combate à insegurança alimentar.
O programa estadunidense sob a liderança de Cary Fowler, em colaboração com a União Africana e a FAO/ONU, está alinhado com essa visão, buscando fortalecer a agricultura local em países africanos através do investimento em culturas tradicionais e subutilizadas. O ônus das mudanças é inerente à própria engenharia agrícola que, perante esse desafio, deverá desenvolver máquinas e processos capazes de operar em sistemas agrícolas diversificados e respeitosos dos variados ecossistemas.
O território brasileiro, renomado por sua riqueza agroecológica, não está à margem desta conversão global. O Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, a ter lugar em São Paulo, amplificará essas discussões, precedendo os diálogos do G20. Em um momento tão crítico, a introdução de abordagens sustentáveis e inovadoras na agropecuária adquire não apenas relevância econômica, mas também ética e social, com olhar atento à saúde do planeta e ao bem-estar das futuras gerações.
Fonte: https://ricardoabramovay.com/2024/02/nova-era-da-domesticacao-das-plantas/